O cardápio da vez abole os carboidratos e manda consumir muita, mas muita gordura em todas as refeições
“De todos os males que afetam a humanidade, não conheço nem imagino nenhum mais angustiante do que a obesidade”
Isso já dizia o britânico William Banting.
Antigo dono de uma casa funerária em Londres, que, em 1863, publicou sua Carta sobre a Corpulência.
Primeira dieta impressa de que se tem notícia, o regime que fez Banting deixar de ser obeso.
Mais de 150 anos atrás, a dieta consistia na substituição de pães, açúcar e batata por carne e hortaliças, a batida receita low-carb.
De lá para cá, a demonização dos carboidratos foi ficando cada vez mais radical, até desembocar na dieta cetogênica.
Hoje a mais seguida nos Estados Unidos, que preconiza o consumo em grande escala de gordura, muita gordura.
A estrela mais fulgurante do universo cetogênico é a cantora Adele.
Ela perdeu 45 quilos em seis meses e não para de postar fotos do corpo esbelto e posar com vestidos curtos e decotados.
No Brasil, a dieta também é seguida e elogiada por famosos como o ator Bruno Gagliasso e a influenciadora fitness Gabriela Pugliesi.
Sendo que no caso deles, ao contrário do de Adele, o antes e o depois são quase iguais.
Os três, e milhões de adeptos mundo afora, cumprem à risca a lei que determina a quantidade das calorias consumidas em um dia.
Na dieta, o consumo deve ser de 70% de gorduras, 20% de proteínas e meros 10% de carboidratos.
A conta das quantidades deve ser 7 gramas de gordura para cada 2 gramas de proteína e 1 grama de carboidrato.
A Dieta
O princípio por trás da dieta da moda é a cetose, nome do processo que transforma gordura em energia.
Em contraponto à glicose, parceira íntima dos famigerados carbs.
A glicose é o “combustível” mais amplamente utilizado pelo corpo humano.
Mas, se a ingestão de carboidratos cai a quase nada, a cetose ocupa seu espaço.
“O organismo entende que precisa produzir energia em forma de gordura”, explica o nutrólogo Felipe Manzano.
Vantagens da troca: a queima de calorias é muito rápida.
O nível reduzido de açúcar no sangue resulta em menor produção de insulina e a sensação de saciedade dura mais tempo.
Desvantagens: o cardápio é cansativo, a liberação pode levar ao consumo exagerado das gorduras saturadas.
O que causam problemas cardiovasculares e hepáticos.
Além disso, e a pessoa corta das refeições alimentos notoriamente saudáveis, como frutas e cereais integrais.
Redução da ingestão de carboidratos
Reduzir a ingestão de carboidratos é parte inerente de qualquer dieta.
Foge-se tanto deles que o léxico ganhou um novo termo, “carbofobia”.
E mesmo a apologia da gordura não é novidade.
A própria dieta cetogênica é citada nos registros médicos desde o início do século passado.
Quando se constataram seus benefícios no tratamento de crises epilépticas.
Mas o recurso da cetose para emagrecer nunca teve tanto peso quanto agora.
A ponto de, nos Estados Unidos, estarem em andamento mais de setenta pesquisas sobre os efeitos da dieta.
O organismo demora uns quatro ou cinco dias para registrar a troca da glicose pela cetose como fonte de energia.
Mas, a partir daí, os efeitos aparecem rapidamente.
O representante comercial Henrique Ferreira, de 44 anos, parou de se exercitar em 2015 e, em um ano, ganhou 50 quilos, chegando a 124.
“Minhas taxas estavam todas desreguladas, e meu médico sugeriu a dieta”
“Em onze meses, perdi 36 quilos”, relata Ferreira, que hoje é vegetariano.
Curiosamente, a personal trainer de Adele, a brasileira Camila Goodis, não é lá muito fã da cetogênica.
“Toda dieta a ferro e fogo dá resultado, mas o importante mesmo é mudar os hábitos alimentares”, disse Camila a VEJA.
Ela atende uma legião de artistas em Los Angeles, onde mora, e confidencia que a cantora “não gosta muito de exercícios”.
Cardápio
O cardápio típico da dieta cetogênica consiste de ovos, queijo, castanhas, folhas e vegetais com alto teor de proteína.
Como brócolis, couve-flor e espinafre, tudo nadando em azeite, manteiga, banha de porco ou óleo de coco.
“Prisão de ventre é um efeito colateral comum, daí a importância dos vegetais”, alerta o nutrólogo Manzano.
No quesito carnes, o alimento mais recomendado é salmão.
O peixe rico em gorduras do bem, mas bacon, presunto e costela também fazem sucesso nas refeições.
O banimento dos cereais ricos em fibras é contraindicado a pessoas com histórico familiar de problemas cardiovasculares.
E a dieta não fará bem àqueles que praticam futebol e corrida.
“Eles dependem da glicose para ter um pique mais rápido”, explica o cardiologista Fabrício Braga.
Isso posto, quem estiver acima do peso poderá, com cuidado e a supervisão de um nutricionista, empanturrar-se desta contradição em termos: gordura para combater a gordura.
Fonte: Veja Saúde